Escrever se aprende escrevendo: exercícios de escrita criativa

Escrever se aprende escrevendo: exercícios de escrita criativa2021-04-07T18:09:13+00:00

Exercício 36: Resuma a história do Brasil em 50 palavras

Resuma a história do Brasil em 50 palavras

  • Desconhecido, exuberante, rico, feliz.
  • Descoberto, explorado, escravizado.
  • Colonizado, catequizado, empobrecido.
  • Imperial, oprimido, sufocado.
  • Sofrido, inconfidente, independente.
  • Republicano, provisório, constitucionalista.
  • Estado Novo, populista, golpeado.
  • Ditatorial, perseguido, morto.
  • Infeliz, injustiçado, amordaçado.
  • Eleições, democracia, alívio.
  • Desigualdade, inflação.
  • Recessão, fome, exclusão.
  • Lula, Dilma, esperança.
  • Justiça social, liberdade, orgulho.
  • Golpe, retrocesso, corrupção.
  • Bolsonaro, vírus.
  • Inferno.
By |August 5th, 2021|Uncategorized|0 Comments

Exercício 35: “Dona Rita, aquela que nunca se irrita”. Crie definições assim, rimadas, para dez pessoas das suas relações. Com um detalhe: a definição tem realmente que fazer sentido.

  • Lá vem o Ari, meu amor que sempre ri.
  • Falou com a Ana, aquela que nunca desencana?
  • Compre um livro pra Luísa, tudo ela romantiza.
  • Essa é a Marina, a mais nova mãe felina.
  • Vem cá, Fefe. Você sempre será meu bebê.
  • Adoro brincar com a Alice, com ela nunca tem chatice!
  • Esse Dhiego… com a Mah é só chamego.
  • Minha torcida é pro Dani, o craque da mami.
  • Minha nora Gabriela, com certeza, muito bela.
  • E eu sou a Elisa: aquela que da rima nem precisa!
By |August 1st, 2021|Criatividade|2 Comments

Exercício 34: Que palavras ou expressões são sua “marca registrada”? Peça a ajuda dos amigos e familiares e monte uma lista com seus termos preferidos. Depois escreva uma história em que todos eles estejam lá.

Esse texto teve a participação de uma porção de gente querida, a quem agradeço de coração: Ari, Rosenir, Marina, Luisa, Ana Claudia, Alice Senna, Fernanda Gimenez, Fernanda de Sales, Katia Costa, Renata, Gabriela

Só um dia normal com a casa cheia:

Filha 1 – Mãe, posso usar aquele seu casaquinho preto?

Eu – Beleza, pode sim. Mas, pra que? Vai aonde?

Filha 1 – Tenho uma entrevista de emprego amanhã, fica na torcida por mim. Tô tão ansiosa…

Eu – Relaxa, vai dar tudo certo. A que horas é a entrevista?

Filha 1 – Às 15h. O que achou dessa roupa, tá boa pra entrevista? Já é a terceira que eu experimento e não consigo decidir.

Eu – Eita já está escolhendo a roupa? Essa blusa tá meio transparente… Não tem outra?

Filha 1 – Aff, mãe. Você bem que podia me dar umas roupas né?

Eu – “De graça sois salvos”, bebê, o resto tem preço. Posso comprar, mas você me paga quando receber seu salário.

Filha 1 – A mãe da fulana dá tudo pra ela até hoje…

Eu – Cada um com seu contrato. Mas usa essa minha aqui, acho que vai ficar bem.

Filha 2 – Oi gente, o trânsito estava um inferno! Olha a hora que eu cheguei, morta da fome! O que tem pro jantar?

Eu – Qualquer coisa, hoje cada um come o que quiser. Abra a geladeira e divirta-se, rs.

Neta – Eu queria pizza…

Filhas 1 e 2 – Bora pedir pizza?

Eu – Fala com seu pai.

Marido (lá do quarto) – Não gosto de pizza…

Filhas 1 e 2 – Mãe, fala com ele.

Eu – Me inclua fora dessa, eu posso comer o que sobrou do almoço…

Filha 2 – A gente pede integral, pai, e eu ajudo a pagar.

Marido – tá bom então…

Eu – Viu como vcs sabem negociar? Pizza então. Tudo se resolve, menos essa dor de cabeça chata que não vai embora nunca… Alguém me traz um dorflex, por favor?

Todo mundo – De novo, mãe? Esse monte de dor é coisa de velho hein…

Eu – Velha é a tua mãe. (Toca interfone) A pizza chegou.

Filha 2 – Vou lá buscar

Filha 1 – Eu ponho a mesa

Eu – Gratidão, meninas. (Toca o celular). Oi, amiga, tudo bem? (…) mentiraaaa! Que notícia boa, beijo querida!

Marido – O que foi? Qual é a boa?

Eu – Meu trabalho sobre a proposta de usar o termo interagente foi aceito para apresentar no congresso internacional! Agora tenho que arrumar um jeito de pagar a viagem… mas, hoje eu comemoro,  amanhã eu vou atrás: um dia de cada vez!

Marido e filhas – Parabéns!

Neta – A gente não vai comer? Tô com fome…

Eu: Tá aqui, meu anjo, pega sua pizza.

Filha 2 – Estou pensando em fazer um intercâmbio de um ano no exterior, o que vocês acham?

Eu – Que incrível! Já tem algo em vista?

Filha 2 – Tenho sim, estou em contato com algumas agências e fazendo uns orçamentos.

Filha 1 – Se meu emprego não der certo, me leva com você?

Neta – E eu? Também quero ir…

Eu – Quem sabe vamos todos então, já aproveitamos e caímos fora dessa bagunça que está o Brasil. Já cansei de gritar #ForaBolsonaro e até agora nada…

Marido – É, não está fácil… Quem sabe com essa CPI…

Eu – Não boto muita fé não, mas tomara que funcione.

Todos – Ué, mas não é você que sempre diz que “no fim dá tudo certo?”

Eu – E cadê esse fim que não chega nunca?

Todos – Ora que melhora, mãe! (Risos)

Eu – Ok, vocês me pegaram nessa… Mas, tudo bem, tô de boa com a zoeira. Bom, temos muitos planos e coisas importantes pra resolver, mas tudo a seu tempo. Por hoje, vamos descansar e amanhã a gente pensa. Boa noite pessoal, amo vocês.

Filha 1 – Boa noite, mãe.

Filha 2 – Boa noite, mãe.

Marido – Dorme com Deus.

Neta – Boa noite vovó, te amo.

By |July 30th, 2021|Sobre mim|1 Comment

Exercício 33: Imagine o som que a chuva faz ao bater na janela do seu quarto. Descreva-o no papel com o máximo de detalhes.

Tem uma música sendo tocada na janela do meu quarto, interpretada com perfeição pela natureza. Um som molhado que escorre pelo vidro, limpando a poeira do dia que passou. Diferentes tons: uns mais graves, outros mais agudos que tocam suas notas enquanto formam uma sinfonia tranquila, que traz calma e ajuda a dormir. A princípio tocada de forma suave, lenta e espaçada, agora muda o tom acelerando a batida. O toque, antes leve como os de um dedilhar das teclas de um piano, agora é forte como as de uma bateria em um show de rock. Assustador.

Cada nota violenta batida na janela representa a fúria de um dueto formado por águas e ventos que não mais respeitam ritmos, espaços ou acordes. Somam-se a esse cenário os sons graves dos trovões e as luzes dos raios que cortam os céus e iluminam o quarto escuro. O que era paz, torna-se medo. Medo não por mim – estou segura, contemplando o espetáculo. Tenho medo por tantos cujas casas não suportam o peso das águas e a força dos ventos. Medo por aqueles que se abrigam nas marquises das cidades nuas, indefesos diante na natureza enfurecida.

Então peço a Deus que desacelere o ritmo dessa orquestra e retorne ao som dos pingos suaves e da brisa tranquila, garantindo um sono seguro para todos. Enquanto a chuva silencia na janela, lembro que a natureza é divina e, por isso mesmo, perfeita: quando vem tocando um chorinho ou um heavy metal. Imperfeitos somos nós, que não sabemos cuidar da vida – a da natureza e a das pessoas.

By |July 25th, 2021|Criatividade|0 Comments

Exercício 33: Escreva um bilhete de agradecimento descrevendo um traço do comportamento de uma pessoa que você admira. Em vez de adjetivos, use exemplos do que ela faz que encanta tanto você

Ao amor da minha vida: receba minha gratidão por ser sempre tão de bem com a vida, bem-humorado e otimista. Obrigada por sempre encontrar motivos pra sorrir e por me divertir também. Aliás, sua capacidade de me fazer rir foi uma das primeiras de suas características a me atrair. Obrigada também por fingir absorver minha dor de cabeça aspirando e soprando pra longe: acredite, funciona! Agradeço também pelo “sim” sempre na ponta da língua toda vez que me dá aquela vontade louca de sair de carro por aí e conhecer novos lugares – perto ou longe, você é sempre a melhor companhia.

Obrigada por simular instrumentos musicais enquanto canto desafinada pela casa e por me puxar pra dançar na cozinha, assim, do nada. Agradeço por cada vez que você volta da rua com um doce diferente porque sabe o quanto eu gosto. E, por falar em doce, minha maior gratidão por você achar que eu sou uma pessoa doce e escolher viver comigo até que a morte nos separe.

By |July 21st, 2021|Criatividade|1 Comment

Exercício 32: Anote as primeiras 20 palavras que vierem à sua cabeça, cada uma em um post-it. Depois, monte 5 frases usando essas palavras como base

  1. O estranho silêncio revela o que foi escrito na dor.
  2. Antes de partir para a sua última viagem, oriente-se dentro desse espaço em que você está agora.
  3. Nada se compara à elegância de quem sabe que, mesmo que o relógio bata mil vezes, é em sua própria orelha que mora a capacidade de ouvir a hora certa de agir
  4. O enlace perfeito entre o ar ofegante de amor e o brilho da luz do prazer provoca o inesquecível e delicioso orgasmo de aceitar ser quem se é
  5. As palavras que caem num solo molhado por lágrimas secretas fazem nascer lindas flores de sonho que não duram mais do que um minuto.
By |July 18th, 2021|Criatividade|1 Comment

Exercício 31: Imagine que se passaram dez anos. O que a sua versão do futuro gostaria de contar para o seu eu de agora? Escreva uma carta com esse conteúdo.

Oi, Elisa. Sou eu de novo mas, agora, venho de um futuro ainda mais distante. Tenho 70 anos de idade e a primeira coisa que quero que te pedir é que não caia nessa história de que a terceira idade é a “melhor idade”. Pra começo de conversa, melhor idade é sempre a que você tem no momento. Com isso quero dizer que não se deve nem ser saudosista, lamentando os tempos passados porque eles, sim, é que foram bons; e muito menos se deve esperar o futuro como o tempo em que, finalmente, seremos felizes.

Então, lá vai o primeiro conselho: faça o possível para ser feliz agora, hoje. Seja leve, cuide da saúde, beba água, ame, odeie na medida necessária para agir com justiça, descanse, trabalhe… seja lá o que estiver fazendo, tenha como meta ser feliz dentro do possível: com muito ou com pouco, sempre existe a felicidade como semente em potencial. E não se paute pela “felicidade” retratada no Facebook (sim, essa praga ainda existe), busque o seu conceito de felicidade sem jamais esquecer que se ela não for coletiva, talvez, ela não seja a melhor pra você.

Quero também aproveitar pra te contar que envelhecer traz no pacote algumas limitações óbvias que são resultado de um corpo já meio cansado e gasto pela vida. Por isso, seja realista nas suas metas para os próximos anos, mas viva intensamente sempre desejando mais da vida porque, você sabe: envelhecer é uma droga, mas a outra opção é morrer…

Busque alvos que respeitem quem você é e tudo o que você já aprendeu: os conhecimentos que você adquiriu, a sabedoria que conseguiu alcançar, os sonhos que já realizou: tudo isso forma a base daquilo que está por vir e, firmada nela, você vai longe.

Vai longe, inclusive, literalmente. Seus planos de viagem continuam ativos: foram muitos destinos, dentro e fora do país, perto e longe de casa, porque correr o mundo está no seu DNA imigrante. Vem lá dos seus bisavós, os aventureiros que cruzaram o Atlântico vindo da Espanha e da Itália por sobrevivência, sim, mas arriscaram tudo vindo para este Brasil onde você nasceu. Esse desejo de sair do seu lugar, mesmo que não definitivamente, ficou meio adormecido nos seus avós e pais, mas ferveu no seu sangue e te levou pra muitos lugares incríveis.

Eu disse “continuam ativos” porque, ainda hoje, com 70 anos na cara, aquele velho sonho de encerrar seus dias neste plano em uma cidadezinha bucólica da Europa ainda não morreu. Quem sabe, não é mesmo?

Falando em sonhos, você já publicou dois livros. Não são best-sellers e – não – você não vive de suas vendas. Eles serviram mais como uma realização pessoal, uma satisfação interna, um orgulho de ter superado tantos medos e fantasmas e ter conseguido colocar em páginas vendáveis algumas de suas melhores histórias. Seu blog ainda está lá também, como uma forma de manter essa chama acesa e de interagir com amigos conhecidos e desconhecidos que surgiram a partir dele.

Você tem mais netos e netas agora. Mas isso vou deixar em suspense, como uma alegria a ser vivida no modo surpresa.

No mais, você está envelhecendo ao lado do Ari, o amor da sua vida, na casa que vocês escolheram como refúgio. Ali vocês se amam, se divertem, se estranham e se entranham – exatamente como o planejado. Construindo essa relação, um dia de cada vez, vocês juntos são um sucesso!

Por ora é só. A gente se encontra daqui a dez anos e daí você me conta se essa cartinha (assim como aquela que recebeu quando tinha aos 15 anos) serviu pra alguma coisa. Beijos.

By |July 15th, 2021|Uncategorized|0 Comments

Exercício 30: Escreva um texto em primeira pessoa como se você fosse um cheiro

Escreva um texto em primeira pessoa como se você fosse um cheiro

Sim, eu domino todos os lugares por onde passo. Talvez eu deixe um rastro de lembranças e desperte emoções e amores, mas também pode ser que eu cause algum desconforto emocional ou físico, especialmente aos alérgicos… Isso, realmente, não depende de mim.

Mas vim para este mundo com a missão única e específica de espalhar meu perfume e, assim, permitir que alguém ou alguma coisa assuma meu aroma como parte da sua identidade, da sua história. E isso é tão individualmente belo!

Ao tocar a pele de alguém, entro em contato com a essência desse ser e, assim, pequenas nuances da minha fragrância se formam. Mesmo que eu tenha características muito próprias em minha fórmula, ao interagir com quem me deseja em seu corpo, assumo sensíveis diferenças que exalam tons distintos em cada pessoa.

Essa é uma conexão rara que dá sentido à minha existência e, assim, ando sempre coladinho com quem me ama. E, olha só: estou passando agora pela calçada, espero que gostem do lastro de cheiro que fica atrás de mim mas, se não gostar, sugiro prender a respiração um pouquinho ou mudar para o outro lado da rua.

By |July 11th, 2021|Criatividade|0 Comments

Exercício 29: Escreva um texto sobre o tema “O que sinto quando estou escrevendo”

Cada texto é uma história, por mais redundante que essa frase possa ser. Às vezes sinto que as palavras fluem como as águas de um rio limpo e claro, correndo com a força e a certeza de estar seguindo seu rumo natural. Quando vem assim tão facilmente e claras, têm o poder de lavar a alma de quem escreve e de quem lê.  Outras vezes, porém, elas são incertas: vem e vão em uma dúvida insistente e incômoda, e ficam sem saber se deveriam realmente estar ali. Para essas há a garantia de um eterno retorno, de uma reescrita mental que nunca tem fim.

Há dias em que elas saem sofridas, doloridas. Chegam lentas e vão sangrando desde a alma até a tela, prontas para ferir também os leitores que ousarem enfrentá-las com seus olhos atrevidos. Nesses dias, escrever pode ser um verdadeiro suplício, um teste de resistência, uma agonia em frente ao espelho cruel que revela verdades que, talvez, nunca deveriam ter sido ditas.

Mas o mais certo é que escrever é o mesmo que sentir – a mim mesma, aos outros, a alguém inventado ou real. Escrever é dar aos sentimentos um reduzido formato de palavras inseguras e limitadas. Eu sinto tudo o que eu escrevo e escrevo tudo o que sinto. Ou não. Sinto muito.

By |July 7th, 2021|Sobre mim|0 Comments

Exercício 28: Escreva sobre a lembrança mais antiga da sua infância na terceira pessoa, como se fosse um narrador observando a cena de fora.

Escreva sobre a lembrança mais antiga da sua infância na terceira pessoa, como se fosse um narrador observando a cena de fora.

Proteger uma criança: esse é o meu trabalho. E olha… elas dão trabalho mesmo! Mas também são muito fofas e, olhar por elas, é algo que me dá muito prazer. Gosto de vê-la crescendo, é tão bonito acompanhar de perto sua evolução: os primeiros passos cambaleantes, as primeiras palavras, a curiosidade e o desejo de aprender e se comunicar.

Tenho que estar sempre perto, pois começar a andar também significa começar a cair. Preciso estar atento porque, na medida em que os passinhos se firmam, o mundo se alarga e se estende e cresce nela o desejo de ir cada vez mais longe.

E essa menina quer mesmo explorar o mundo. Ela observa atentamente os adultos ao seu redor, quer aprender com eles e imitar o que fazem. Mas ainda é tão pequena… não reconhece os perigos, não sabe das armadilhas das ruas. E, assim inocente, dá seus passinhos em direção ao desconhecido, certa de que para além dos portões da casa estará tão segura quanto no chão da sala, rodeada de brinquedos.

Ali, sentadinha, mexe suas panelinhas seguindo os mesmos movimentos da vovó que está na cozinha preparando o almoço. “Que coisa, acabou o tomate!”, resmunga a linda senhorinha de cabelos brancos que cuida dela com amor enquanto a mamãe trabalha.

Foi então que ela decidiu que poderia ajudar a vovó: levantou, pegou sua sacolinha colorida e estampada com personagens das historinhas infantis dos livros que ela amava folhear mesmo sem conseguir decifrar as letras embaralhadas que acompanhavam as imagens. Foi até a porta da cozinha e avisou a vovó que iria até a mercearia do seu Antonio buscar tomate.

A vovó riu, certa de que o mundo da imaginação de sua netinha de quase cinco anos de idade a levaria, no máximo, até o quintal e entrou no faz de conta: “oh, obrigada minha querida. Mas tome cuidado no caminho!”. Ela, então, abriu a porta e desceu as escadinhas do jardim. Abriu o portão da casa e saiu andando pela calçada, em direção à mercearia que ficava na avenida principal.

E eu fui junto, cercando de cuidados. Ela nem imagina que conta com a minha proteção, que fui eu quem ficou a seu lado limitando seus passinhos para que não atravessasse a rua e que tirei sua mãozinha do portão da vizinha cujo cachorro bravo latia assustando os desavisados que passavam por ali.

Acompanhei de perto quando virou a esquina em direção à avenida movimentada cheia de carros, bicicletas e desconhecidos. Fui eu quem alertou a dona Lídia, vizinha da vovó que voltava para casa justamente vindo da mercearia do seu Antonio, quando viu a pequena com sua sacolinha na calçada.

“Oi, querida, você não é a neta da dona Christina? Onde está indo, assim, sozinha?” Sem embaraço algum, ela explicou sua importante missão de comprar tomate para a vovó terminar seu almoço. Sabiamente, dona Lídia ofereceu um dos tomates que acabara de comprar, colocou em sua sacolinha cor de rosa, pegou sua mãozinha e a levou de volta para casa.

A avó, apavorada, já estava fechando o portão para sair em busca da pequena, quando avistou dona Lídia que, de longe, fez sinal para que ela se acalmasse – estava tudo bem! A menininha correu ao encontro da vovó, esticando os bracinhos para lhe entregar o tomate, orgulhosa de poder ajudar e resolver o problema culinário do dia.

Ela não entendeu muito bem o motivo pelo qual a vovó chorava enquanto a abraçava colocando-a no colo no caminho de volta para casa. Agradeceu com o olhar à dona Lídia e, com o coração, me agradeceu também.

Já em casa, segura novamente, a menina voltou às panelinhas que estavam no chão da sala enquanto ouvia a vovó, com voz trêmula, explicar que ela só poderia sair de casa novamente se ela ou o vovô, o papai ou a mamãe fossem junto.

Parece que ela entendeu. Balançou a cabecinha com um sim, chacoalhando os cachinhos do seu cabelo castanho. A vovó trancou o portão com um cadeado pela primeira vez, voltou à cozinha e terminou o almoço. E eu fiquei por ali, tranquilo, e com aquele sentimento feliz de dever cumprido, observando enquanto a menina brincava de cozinhar, até o momento em que se levantou porque “precisava de uma faca para cortar o bife para a sua bonequinha”. Voei (literalmente) até a cozinha para impedí-la de alcançar o perigoso instrumento mas, desta vez, a vovó estava atenta.

Respirei aliviado. Eu não era o único anjo que guardava aquela menina com amor…

By |July 4th, 2021|Sobre mim|2 Comments

Exercício 27: Você acordou e percebeu que tinha virado um bicho. Conte essa história e invente um desfecho surpreendente.

Você acordou e percebeu que tinha virado um bicho. Conte essa história e invente um desfecho surpreendente.

Que estranho… Tinha a impressão de que acabei de deitar, adormeci e em seguida acordei. Juro, não deu nem 10 minutos! Devo estar maluca, pois me sinto super disposta e descansada – a noite de sono deve ter sido muito boa. Uma espreguiçadinha, e já me levanto… Ora essa, é noite ainda? Coisa mais estranha, vou me levantar mas… cadê a cama? Cadê meu quarto? Cadê o chão???

Olhei para baixo e fiquei tonta, tamanha a altura em que me encontro. Tentei me segurar para não cair, mas descobri que tenho asas ao invés de mãos, e minhas penas apenas deslizaram pelo galho dessa árvore imensa onde, aparentemente, passei a noite. Então, percebi que caía para cima – voava!

Atordoada e sem entender coisa alguma, pousei sobre uma rocha enorme que ficava perto de um rio caudaloso. Fechei os olhos por alguns segundos na esperança e abrir novamente e ver que tudo havia sido um sonho esquisito, mas não, era tudo real. Tive certeza disso quando resolvi olhar ao redor para entender que lugar era aquele e, principalmente, o que eu era: fui capaz de girar a cabeça sem mover meu corpo e checar que estava em uma espécie de bosque e – pasmem – por mais absurdo que parecesse, eu era uma coruja.

Depois de alguns instantes de desespero, resolvi aceitar (ao menos momentaneamente) aquela condição animal em que me encontrava e decidi realizar um sonho que, talvez, todo ser humano conhecesse bem: abri minhas enormes e macias asas, dei um impulso e voei. A princípio muito temerosa mas, em seguida, tomada pela leveza e firmeza de quem nasceu exatamente para isso.

Voei o mais alto que pude, planando silenciosamente sob um céu estrelado e uma lua cheia brilhante. Jamais em toda a minha vida como humana havia experimentado tamanha liberdade! O vento suave passando entre as penas das minhas asas, a visão panorâmica que meus grandes e atentos olhos conseguiram capturar… inesquecível.

Voltei para o galho daquela árvore onde eu havia despertado nesta incrível metamorfose, cansada do vôo e maravilhada com tudo o que eu tinha visto e sentido. No entanto, aos poucos minha realidade anterior tomou conta de meus pensamentos e a lembrança da minha vida humana trouxe um misto de saudade, tristeza e medo de que tudo o que eu era e tinha ficasse preso no passado.

Absorta em meus pensamentos, fui surpreendida pelo vôo rasante de um gavião em minha direção, ávido por me levar em suas garras.  Tomada de medo, gritei um som de ataque e ericei minhas asas para afastar meu predador. Nessa hora, com a respiração ofegante, senti o abraço quente do meu marido me acalmando dizendo que estava tudo bem, que havia sido apenas um sonho.

E lá estava eu, de volta ao meu quarto, em minha cama. Tentei dormir novamente, mas não consegui. Passei o restante da madrugada pensando sobre aquele sonho louco, tão real para mim. Ainda podia sentir a brisa, ver o bosque iluminado pela lua e ouvir o barulho das águas daquele rio que corria sobre as pedras.

O sol batia na janela quando me levantei para mais um dia em minha existência humana. Ainda em êxtase, dobrei as cobertas, estiquei o lençol e, ao afofar os travesseiros, uma enorme pena alaranjada voou e caiu sobre o meu chinelo. Incrédula e com as mãos trêmulas, peguei o que seria a prova concreta de que meu sonho aconteceu muito além dos limites da mente, e a guardei entre as páginas do livro sobre a cabeceira da cama.

Desse dia em diante, meus dias são marcados pela ansiedade em chegar a hora do sono noturno na expectativa de uma nova experiência mutante. Enquanto isso não acontece, trago para a vida humana um pouco do que aprendi em meu curto tempo como coruja: procuro ‘voar’ acima das dificuldades, focar minha visão num plano mais periférico para enxergar belezas e possibilidades e, por fim, estar atenta aos predadores que – sim – sempre estão ao redor.

Às vezes me perco um pouco com as manias do ser humano e, quando isso acontece, seguro em minhas mãos o meu novo, macio e alaranjado marcador de páginas e, como mágica, sinto como se meus braços tivessem penas e eu pudesse voar. Sonho acordada desde então.

By |July 2nd, 2021|Criatividade|2 Comments

Exercício 26: Escolha uma cor. Escreva um texto com 200 palavras sobre ela

E eu nem comentei sobre ser a cor do meu posicionamento político…

Escolha uma cor. Escreva um texto com 200 palavras sobre ela.

Quando me perguntam qual minha cor preferida, sempre hesito em responder porque penso gostar de todas, cada uma de um jeito diferente, para ocasiões diferentes. Às vezes digo azul, que é a primeira que me vem à mente porque tive uma fase muito azulada mesmo, especialmente na adolescência e juventude.

Mas o fato é que é você, a cor vermelha, é a que mais me atrai, a que sempre me chama a atenção em todos os lugares por onde ando. Meus olhos não conseguem fugir de nada que seja vermelho: sua força me encanta, me inspira. Você brilha de uma maneira muito peculiar que, tanto me remete à vida que pulsa em minhas veias, quanto ao inevitável esvair da morte que aguarda a todos nós. É a cor do amor assim como colore o ódio também.

Além disso, aguça meus sentidos quando me traz à memória um lindo e cheiroso prato de massa coberta por um delicioso molho bolognesa, acompanhado de uma linda taça de vinho tinto – impossível não associar.

Não bastassem esses motivos, você me cai bem, realça o que de melhor tenho em meu corpo e me faz sentir linda, poderosa, sensual e elegante. Juntas, nós somos incríveis!

By |June 27th, 2021|Criatividade|2 Comments
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