Oi, Elisa. Sou eu de novo mas, agora, venho de um futuro ainda mais distante. Tenho 70 anos de idade e a primeira coisa que quero que te pedir é que não caia nessa história de que a terceira idade é a “melhor idade”. Pra começo de conversa, melhor idade é sempre a que você tem no momento. Com isso quero dizer que não se deve nem ser saudosista, lamentando os tempos passados porque eles, sim, é que foram bons; e muito menos se deve esperar o futuro como o tempo em que, finalmente, seremos felizes.
Então, lá vai o primeiro conselho: faça o possível para ser feliz agora, hoje. Seja leve, cuide da saúde, beba água, ame, odeie na medida necessária para agir com justiça, descanse, trabalhe… seja lá o que estiver fazendo, tenha como meta ser feliz dentro do possível: com muito ou com pouco, sempre existe a felicidade como semente em potencial. E não se paute pela “felicidade” retratada no Facebook (sim, essa praga ainda existe), busque o seu conceito de felicidade sem jamais esquecer que se ela não for coletiva, talvez, ela não seja a melhor pra você.
Quero também aproveitar pra te contar que envelhecer traz no pacote algumas limitações óbvias que são resultado de um corpo já meio cansado e gasto pela vida. Por isso, seja realista nas suas metas para os próximos anos, mas viva intensamente sempre desejando mais da vida porque, você sabe: envelhecer é uma droga, mas a outra opção é morrer…
Busque alvos que respeitem quem você é e tudo o que você já aprendeu: os conhecimentos que você adquiriu, a sabedoria que conseguiu alcançar, os sonhos que já realizou: tudo isso forma a base daquilo que está por vir e, firmada nela, você vai longe.
Vai longe, inclusive, literalmente. Seus planos de viagem continuam ativos: foram muitos destinos, dentro e fora do país, perto e longe de casa, porque correr o mundo está no seu DNA imigrante. Vem lá dos seus bisavós, os aventureiros que cruzaram o Atlântico vindo da Espanha e da Itália por sobrevivência, sim, mas arriscaram tudo vindo para este Brasil onde você nasceu. Esse desejo de sair do seu lugar, mesmo que não definitivamente, ficou meio adormecido nos seus avós e pais, mas ferveu no seu sangue e te levou pra muitos lugares incríveis.
Eu disse “continuam ativos” porque, ainda hoje, com 70 anos na cara, aquele velho sonho de encerrar seus dias neste plano em uma cidadezinha bucólica da Europa ainda não morreu. Quem sabe, não é mesmo?
Falando em sonhos, você já publicou dois livros. Não são best-sellers e – não – você não vive de suas vendas. Eles serviram mais como uma realização pessoal, uma satisfação interna, um orgulho de ter superado tantos medos e fantasmas e ter conseguido colocar em páginas vendáveis algumas de suas melhores histórias. Seu blog ainda está lá também, como uma forma de manter essa chama acesa e de interagir com amigos conhecidos e desconhecidos que surgiram a partir dele.
Você tem mais netos e netas agora. Mas isso vou deixar em suspense, como uma alegria a ser vivida no modo surpresa.
No mais, você está envelhecendo ao lado do Ari, o amor da sua vida, na casa que vocês escolheram como refúgio. Ali vocês se amam, se divertem, se estranham e se entranham – exatamente como o planejado. Construindo essa relação, um dia de cada vez, vocês juntos são um sucesso!
Por ora é só. A gente se encontra daqui a dez anos e daí você me conta se essa cartinha (assim como aquela que recebeu quando tinha aos 15 anos) serviu pra alguma coisa. Beijos.
Leave A Comment