Mãe
Passei pelo espelho hoje e vi minha mãe – de novo. Isso é muito comum, nunca vi alguém ser tão parecida com a mãe quanto eu. E não sou só eu que acho isso, pode perguntar para qualquer um que a tenha conhecido. É quase consenso nacional…
Mas hoje foi um pouco diferente, isso porque minha imagem refletida está ficando, a cada dia, mais igual às últimas imagens que tenho dela em minha memória, antes dela nos deixar aqui neste plano e encontrar a eternidade que ela tanto sonhava alcançar.
Não me assustei com meu rosto refletido. Sei que estou envelhecendo e estou chegando naquela fase da vida em que o corpo se transforma pra nos deixar com a cara dos nossos ancestrais e nos fazer lembrar deles com mais frequência.
Eu acho que isso é um pouco divino, aliás, porque a gente já andou tanto para a frente e, ao mesmo tempo, ainda tem uma memória viva da nossa infância, dos nossos antepassados… Me confundo no espelho com a minha avó materna às vezes também: herdei tantas características físicas das mulheres espanholas que me geraram que é impossível negar minhas raízes.
Negar? E quem disse que eu quero isso? Não, não, pelo contrário. Tenho muito orgulho de ser quem eu sou e carrego comigo o sentimento de gratidão porque, se sou a Elisa italiana que trago do meu pai, sou também a Cristina espanhola que saiu da minha mãe.
E foi por isso que hoje eu a vi de um jeito especial e com saudades ainda maiores. Naqueles poucos segundos que estive em frente ao espelho enquanto me levantava da cama pela manhã, uma pergunta brotou na minha mente e me fez parar mais um pouco diante dele e – sem trocadilhos – refletir:
“Mãe, vc está orgulhosa de mim?”
Esse não foi um questionamento como o de uma criança insegura, ou de uma adolescente indecisa, nem mesmo de uma mulher adulta arrependida de sei lá o que. Mas, assim como seria para elas, foi a pergunta de uma idosa, aposentada e avó que gostaria muito de poder olhar nos olhos da sua mãe – que hoje seria muito mais idosa e bisavó – e, de alguma maneira, enxergar neles a aprovação amorosa de quem sempre a inspirou em tantas coisas.
Corri fazer as contas para saber quantos anos ela teria hoje se estivesse entre nós: seriam 85. Não seriam muitos, não é verdade? Mas ela não conseguiu chegar mais longe do que os 70 e poucos que tinha quando o câncer impiedoso bateu o martelo e achou que estava na hora do seu fim.
Se ela estivesse aqui, acho mesmo que eu daria uma ligadinha pra perguntar… Passei o dia todo pensando nisso e imaginei que sim, ela estaria incrivelmente orgulhosa de mim apesar dos meus tropeços. Ela tinha um orgulho enorme da carreira que eu construí, tipo, era meio que uma fã de tudo o que eu fazia. Não cabia em si de alegria quando sabia que eu iria palestrar em algum congresso, dar uma entrevista na tv sobre meus projetos, e achava incrível quando um artigo meu era publicado.
Dediquei minha dissertação de mestrado pra ela… E agora, mãe, estou aposentada mas ainda cheia de planos e projetos que quero realizar enquanto ainda me for prazeroso.
Mas é certo que ela acharia o máximo as minhas viagens ao exterior. Ela sempre dizia que se realizava nas coisas que não conseguiu fazer quando seus filhos conseguiam. Ela queria ser professora e dizia que era um pouco por minha causa. Bem, mãe, já te levei por muitos lugares lindos e prometo te levar pra tantos outros ainda.
Ela seria apaixonada pelo meu filho, minhas filhas e suas famílias, se encheria de amor ao ver como são lindos e amorosos, e se derreteria com as minhas netas. Ela daria suspiros ao ver como eu e o Ari ainda nos amamos apaixonadamente e como nosso casamento é tão bom. Sim, mãe, eles e elas são o amor da minha vida todinha.
Quando estava entre nós, ela enchia os olhos de emoção ao me ver liderando qualquer coisa na igreja ou acompanhando o Ari nas suas viagens ministeriais. Na verdade, acho que hoje em dia ela teria mais preocupações do que orgulho a respeito dessa área da minha vida, nesse quesito creio que receberia muitos conselhos e tempo gasto em oração por mim… Bom, mãe, vivencio minha fé de um jeito muito diferente e talvez você não aprovasse a forma como eu vejo a religiosidade hoje em dia.
Mas, pensando bem, eu realmente acredito que ela estaria orgulhosa de mim apesar dessa provável decepção quanto à esse “desvio”. Eu sei que, lá no fundo, ela se orgulharia da maneira corajosa e crítica com a qual eu me posiciono e me defino de forma diversa da dela em um assunto que, para ela, teria importância primordial. Tenho certeza que ela encontraria em mim uma conduta cristã condizente com a fé que ela me ensinou a ter, a despeito dos passos para trás dados por mim em relação à religião, e isso traria conforto e sossego ao seu coração.
E assim, ao final do dia, me senti aprovada e meu coração também está quentinho, sossegado e confortado. Ela ainda está aqui, em mim, e estará para sempre naqueles que eu gerei, mesmo naqueles que nunca a conheceram. Porque a gente é a gente, mas também é quem veio antes de nós.
Eu vou passar pelo espelho novamente quando for dormir e vou dar uma olhadinha na dona Arlete outra vez, e vou vê-la me dizendo que sim, está super orgulhosa de mim. Vou agradecer na minha alma e vou dormir em paz com a sua bênção.
Exercício 47: Escreva sobre uma experiência recente em que você fez algo pela primeira vez (se não lembra de nada assim, faça algo que nunca fez e depois escreva a respeito!)
Escreva sobre uma experiência recente em que você fez algo pela primeira vez (se não lembra de nada assim, faça algo que nunca fez e depois escreva a respeito!)
Minha infância foi marcada por muitas mudanças de casa, mas este não é o tema principal desta história. Morávamos sempre de aluguel e, a cada 3 ou 4 anos, costumávamos encaixotar nossas coisas, desmontar nossos móveis e partir para outras casas, às vezes, em outros bairros.
As lembranças mais fortes que tenho desse tempo são as constantes mudanças de escola e de vizinhança. Era difícil para mim ter que iniciar amizades do zero em diferentes lugares e, claro, isso deixou marcas na minha personalidade que trago até hoje: desapego fácil das pessoas que, por qualquer motivo, saem da minha vida e, por outro lado, sou muito reticente com novos relacionamentos de amizade. Mas vamos deixar esse tema para outra postagem 😉
A história de hoje nos leva até os meus nove anos de idade, quando fizemos uma mudança bem diferente: sem muitas caixas ou desmontagem de móveis, apenas fizemos nossas malas e saímos da cidade, ou melhor, do estado!
Meu pai trabalhava como vendedor de peças para tratores e a empresa onde ele atuava abriu uma filial em Manaus, capital do Amazonas. Isso aconteceu no início da década de 1970, quando começou a ser construída a famigerada Transamazônica, uma estrada que, reza a lenda, levaria ninguém a lugar algum…
Papai foi, então, transferido para a filial amazonense e, assim eu, mamãe e minhas irmãs voamos até Manaus. Lembrando dessa viagem me dou conta de que tenho duas experiências de “primeira vez” para contar aqui: essa primeira viagem de avião foi uma das coisas mais excitantes da minha infância. O friozinho na barriga, o glamour da equipe de bordo nos servindo comes e bebes, as cidades pequenininhas vistas lá do alto… inesquecível! Sentei na poltrona da janela, exatamente onde ficava uma das asas do avião. Lembro de não tirar meus olhos dos flaps que subiam e desciam, apavorada por achar que a asa estava quebrada e que, por isso, eu não chegaria a completar meus dez anos de idade…
Enfim, saibam que eu morei em Manaus por dois anos incríveis: fiz muitos amigos dos quais tive que me despedir com o coração partido, conheci lugares lindos, tomei muito tacacá e aproveitei essa experiência o máximo que pude. Me lembrem algum dia de contar as peripécias desse meu período em terras amazonenses.
Muitos anos se passaram, outras tantas mudanças de casa e de estado aconteceram e agora, já adulta, tive a oportunidade de voltar à Manaus para um breve período de lazer. Revisitei a rua onde morava, fui a uma sessão musical no Teatro Amazonas (lindo demais!), passei pela Biblioteca Pública, pela escola onde estudei, tomei tacacá e, desta vez, fiz algo que nunca havia feito na vida: vivenciar uma experiência indígena na floresta amazônica – e é essa a minha história de hoje.
Experenciar uma aldeia indígena em pleno Amazonas foi algo que exigiu de mim a superação de um medo adquirido ali mesmo, na minha infância: o medo de navegar. Quando morávamos em Manaus, frequentávamos uma espécie de clube onde havia uma piscina feita de tábuas de madeira dentro do Rio Negro.
Adorava nadar ali e, como a maioria das crianças de nove anos, mergulhava solta e sem medo até o dia em que, num desses mergulhos, pisei no fundo da piscina e meu pé esquerdo ficou preso entre o vão das tábuas por alguns segundos desesperadores, até que consegui me soltar e voltar à tona. Depois desse susto e durante todo resto da minha vida até meu retorno turístico a Manaus, nunca mais entrei em piscinas nas quais a água ultrapassasse a altura dos meus ombros e nunca – nunca mesmo – entrei em um barco de qualquer tamanho.
No dia do passeio, acordei com dores pelo corpo, náuseas e tremores nas mãos. Tudo porque era preciso pegar um catamarã (uma espécie de embarcação) para cruzar o rio e chegar até a ‘floresta’ onde a tribo vivia. Pedi a Deus que me ajudasse por dois motivos: primeiro porque queria encarar de frente o bicho papão que me impedia de navegar e, segundo, porque não queria ser a única da turma de amigos que ficaria no hotel enquanto os demais se divertiam.
Suei frio até a chegada no píer onde o barco nos esperava, compramos os ingressos e entrei com a maior cara de paisagem, fingindo que não estava morrendo por dentro. Mas foi mágico: em poucos minutos esqueci onde estava e pude aproveitar o trajeto admirando a perfeição da divisão dos rios Negro e Solimões com suas cores distintas, o céu azul claro e limpo, batendo um gostoso papo ‘cazamiga’.
Enfim, chegamos a uma praia do rio e subimos um pequeno aclive para sermos recepcionados por um simpático indígena que nos deu as boas vindas e nos guiou por uma trilha no meio da mata, onde nos mostrou árvores centenárias e outras plantas, até chegarmos a uma clareira onde havia uma banquinha com alguns produtos indígenas que – para minha inadequada estranheza – aceitava pagamentos com cartão.
Um pouco mais adiante chegamos à última parte de nosso passeio: uma oca gigante onde vários membros da tribo Dessana nos aguardavam. Homens e mulheres adultos e idosos, jovens, adolescentes e crianças – todos devidamente paramentados e prontos para nos mostrar algumas de suas tradições com músicas e danças, das quais participamos daquele jeito de gente branca desajeitada.
Aprendemos truques contra mau olhado, fizemos pinturas no rosto e, os mais corajosos, saborearam iguarias da cozinha indígena como formigas fritas. Eu não, claro.
Voltamos para a praia onde o catamarã nos esperava e fizemos o trajeto de volta felizes e cansados. E eu tive a bênção extra de voltar pra casa mais leve por ter devolvido ao Rio Negro o pesado fardo do medo de águas que carreguei por anos a fio.
Exercício 46: As pessoas criam comparações engraçadas, que muitas vezes acabam sendo amplamente disseminadas, como “mais perdido que cachorro em dia de mudança”. Agora é a sua vez. Crie comparações engraçadas para as seguintes situações: “mais nervoso que” e “mais feliz que”.
Parece fácil pensar criar uma comparação assim mas… nem tanto. Além do esforço criativo, precisei ter o cuidado de checar se já não existem e, principalmente, procurei não ser preconceituosa ou ofensiva (vi cada coisa na pesquisa…). Enfim, taí o resultado:
Mais nervosa que noiva indecisa na porta da igreja/que machão de extrema direita/goleiro em disputa de pênaltis
Mais feliz que macaco na bananeira/passarinho fora da gaiola/ganhador da mega sena
Exercício 45: Escreva um texto com 50 palavras em que todas as sílabas sejam compostas por duas letras
“Hoje, para almoço, este belo bife bovino”: estava dito na foto do libelo*. Eu li já no auge da fome pela hora do rega-bofe**, pela lacuna do estômago e pela saliva na boca e, induzida pela beleza da foto, decidi pelo bife.
Logo na boca da loja de comida, vi a mesa suja onde o bife estava colocado e um cara careca de bigode, cujo sapato esmagava uma barata e, na hora, o nojo me sobe à boca e só pude sair em fuga pela vereda***
Como remate**** da cena, nada de almoço e tudo de nojo. E, nada de dúvida: o engano de um libelo dizima o apetite e tira o júbilo da hora da comida. ARGH!!
*panfleto **refeição ***rua ****desfecho
Exercício 44: Você acordou e percebeu que estava vinte anos à frente da noite anterior. Conte essa história e invente um desfecho surpreendente.
O dia amanheceu barulhento. Antes mesmo de abrir os olhos para ver a luz que passava entre as frestas da janela, pude ouvir o som agitado de pessoas andando apressadas lá fora e falando baixo como se não quisessem me acordar, contudo, falhando miseravelmente.
Sentei devagar um pouco tonta, dominada pelo sono que ainda pesava em meu corpo, mas preferi não levantar de vez. Fiquei ali, na beirada da cama, tentando decifrar a agitação que parecia estar movimentando tudo o que cercava meu quarto.
“Que dia é hoje mesmo?” Não sabia dizer. Fiquei repassando os acontecimentos do dia anterior como um detetive que busca desvendar um mistério e me lembrei de uma cena feliz, com família reunida, comida boa e crianças brincando no quintal. O sol iluminava e aquecia esse encontro onde as meninas pulavam na piscina buscando os brinquedos que eu jogava para que elas mergulhassem e me trouxessem de volta, uma vez atrás da outra, incansavelmente.
“Joga de novo, vovó”, “agora é minha vez, você pegou a última”, “joga um menor, esse tá fácil”. Foi preciso inventar novos jogos, mais interessantes, para interromper a maratona de “caça ao brinquedo na água” e ir aos poucos acalmando a turminha que, depois de um banho quente, um desenho na tv e um balde de pipoca esvaziado, acabaram adormecendo no sofá. Lembrei de sentir o cheirinho do cabelo delas quando as pegava no colo e levava para a cama onde dormiam profundamente pelo resto da noite. E eu descansava feliz, dormia bem quando elas estavam por perto.
As vozes lá fora agora estavam menos contidas e eu podia ouvir alguns diálogos, embora não conseguisse identificar exatamente sobre o que conversavam, ou mesmo, quem estava falando. Tentei me levantar e conferir o que estava acontecendo, procurei meu celular para saber as horas e, depois meus óculos para enxergá-las, mas não encontrei nenhum dos dois.
Foi quando vi, ao lado da cama, uma poltrona confortável sobre a qual estava esticado um lindo vestido de festa, protegido dentro de uma capa de plástico transparente que não escondia o meu tom de azul preferido e as pequenas pedras brilhantes espalhadas pelo tecido na medida certa para deixar o vestido discreto e elegante. No chão, em frente à poltrona, repousava um par de sapatos num tom mais escuro de azul combinando com o vestido e com saltos baixos que me pareceram extremamente confortáveis.
Mais atenta agora, percebi que o ambiente ao meu redor era festivo, e que as vozes agitadas que ouvia fora do meu quarto provavelmente estariam a serviço de algum evento importante. Fechei os olhos novamente para aguçar meus ouvidos e pude escutar fragmentos de conversas que envolviam o lugar exato para colocar os arranjos de flores, a toalha de renda branca sobre a qual o bolo e os doces seriam dispostos e as luzes e ramos que se entrelaçariam com o pergolado no quintal.
Enquanto apertava meus olhos tentando concentrar todos os meus sentidos em decifrar os sons de festa que aos poucos iam invadindo minha mente, ouvi a porta do quarto se abrindo e a doce voz da minha amada netinha me chamando suavemente: “oi, vovó!”.
Além de doce e suave, sua voz teve o poder de me fazer despertar por completo e, subitamente, me lembrei que dia era aquele. Bem, para ser sincera, o dia exatamente não consegui me lembrar, mas o ano era 2041 e isso certamente explicava o peso em minhas pernas e a dificuldade para sair da cama. Lembrei também que estava despertando do sono da tarde, um cochilo gostoso depois de um farto almoço em família. Na verdade, essa dormidinha vespertina sempre me deixou um pouco confusa…
Mas ao ouvir aquela voz amorosa me convidando para sair do quarto, somada às conversas lá de fora e à roupa que esperava por mim ali ao meu lado, tudo ficou muito claro para mim. Minha neta me chamava agora não mais para ir brincar na piscina, colocar um filme ou fazer pipoca. Abri meus olhos e vi uma linda mulher com seus 20 e poucos anos, maravilhosamente maquiada e penteada, me chamando para ir com ela ao encontro da realização de um sonho.
E, desta vez, foi ela quem me ajudou, retribuindo todo o amor que recebeu desde a sua infância. Me estendeu a mão, me ajudou com a toalete e me encaminhou até a pessoa que também me maquiaria e ajudaria a me vestir. Em poucas horas eu estava pronta e, com muita emoção, me vi diante do espelho: uma senhora de 80 anos devidamente paramentada para viver uma das maiores emoções de sua vida: o casamento de sua neta ali naquele mesmo quintal, ao lado da piscina da caça ao brinquedo.
Foi então que eu percebi que o “dia anterior” repassado em minha mente foi mesmo um ontem, porque a vida é assim: passa voando, uma brisa, um piscar de olhos. Ontem ela brincava no quintal e precisava de mim para levá-la para a cama. Hoje ela se casa no quintal da vovó e me ajuda a sair da cama. O nome disso é amor.
Exercício 43: Escreva um texto sobre coisas do seu tempo de criança que não existem mais. Marcas que desapareceram, brinquedos que saíram de linha, programas de TV que você assistia, hábitos que foram modificados, etc.
Escreva um texto sobre coisas do seu tempo de criança que não existem mais. Marcas que desapareceram, brinquedos que saíram de linha, programas de TV que você assistia, hábitos que foram modificados, etc.
Num dia normal da minha infância, depois da aula eu tinha a seguinte rotina: a primeira coisa a fazer sempre era tirar o uniforme da escola e meu conga dos pés e correr para a mesa do almoço (aquela comidinha esperta da mamãe e o Ki-suco de uva no copo). Depois do almoço a gente podia ganhar um chiclete Ping-Pong ou uma bala de leite Kids de sobremesa, e partir para as brincadeiras preferidas no quintal sempre envolviam criar hematomas nas mãos com o bate-bate, dar umas voltinhas na minha Caloi com cestinha.
Quando a fome apertava é porque já estava na hora de lanchar um pão Pullmann com Helmann’s acompanhado de um leite com Toddy bem geladinho. E aí, descansar um pouco assistindo meu seriado favorito na nossa tv Sharp: Os Monkees. Ah, eu era tão apaixonada pelo Dave… Mas também curtia muito A família Dó-Ré-Mi, e o Keith era o primeiro reserva no time do meu coração.
Mal terminava o episódio e o pessoal da rua já estava gritando no portão chamando para brincar na rua e lá apostávamos corrida, empinávamos “papagaio” e jogávamos bolinhas de gude até o sol baixar e a mãe mandar entrar para a hora do banho e depois, fazer a lição de casa. Eu amava quando os professores pediam para ler os livros da Coleção Vaga-lume!
Depois do jantar era a hora das novelas: eu ficava vidrada diante da tv assistindo Barba Azul e pensando que eu gostaria de crescer e ficar linda como a Eva Wilma… Antes de dormir ainda assistíamos aos festivais de música da TV Excelsior, os concursos de Miss Brasil e Miss Universo transmitidos pela TV Tupi, com mulheres maravilhosas usando seus maiôs Catalina. Nos intervalos dos programas ficava sonhando em ser aeromoça e trabalhar em empresas como a Varig, a Pan-Am ou Cruzeiro.
E por falar em sonhos, à noite, depois de deixar os dentes fresquinhos com a pasta Kolynos, que gostoso dormir bem quentinha debaixo dos meus cobertores Parahyba e começar tudo de novo no dia seguinte!
Exercício 42: Defina em um parágrafo: “o que é o futuro”?
Defina em um parágrafo: “o que é o futuro”?
Ele não me pertence, eu não o conheço e não tenho nenhum poder de interferir em sua construção, embora seja presunçosa o suficiente para achar que sim. Ele me assusta e, por isso, sou tentada a adivinhá-lo, a intuí-lo, a desenhá-lo com cores ainda não inventadas e, dessa forma, criar a ilusão de que posso ter controle sobre ele. Ele ainda não chegou e, no mesmo instante em que chegar, deixará de ser o que é e, logo em seguida, será o seu avesso. Ele não é meu e nem é de ninguém, mas tem cada um de nós em suas mãos. Somos dele.
Exercício 41: Minha oração pelo Brasil
Esse exercício não veio na caixinha, é um exercício de fé e de cidadania. E, a pedidos: #foraBolsonaro
Minha oração e meu clamor pelo Brasil neste 07 de setembro de 2021:
Oh Senhor Deus Todo Poderoso, a ti que amas o pobre e acolhes o aflito, que odeia a mentira e a injustiça, é a ti que elevo meus olhos e peço socorro. Oh Jesus, que ensinastes a praticar o amor e o perdão como caminho para confrontar a violência dos maus e que pregaste o Reino como alegria, justiça e paz no teu Espírito, a quem também me rendo ao pedir que interceda por mim neste momento e faça com que minhas palavras cheguem ao trono de Deus como aroma suave, prostrada aos teus pés, é que eu peço a tua bênção para que em meu país haja:
Mais justiça social e dignidade, menos assistencialismo:
- que todo cidadão e cidadã tenha comida farta em sua mesa ao invés de osso bovino doado ou vendido a 18 reais o kilo;
- que haja oportunidades de emprego para que até mesmo uma empregada doméstica possa ir à Disney com seus próprios recursos;
- que ao invés de “deixar a molecada trabalhar”, cada criança e adolescente deste país tenha acesso garantido às escolas e bibliotecas públicas;
- que os jovens possam estudar em universidades públicas gratuitas, inclusive o filho do porteiro.
Igualdade de direitos:
- que as mulheres brasileiras, que não “merecem salário menor porque engravidam” dos filhos que dão aos homens brasileiros, recebam salários e estabilidade de trabalho iguais aos de seus companheiros;
- que igualmente nossas mulheres sejam protegidas contra a violência sexual ao invés de apenas “não serem estupradas por que não merecem”;
- que cada fé tenha seu espaço de culto garantido e respeitado, ao invés da imposição de um estado “terrivelmente evangélico”;
- que mesmo com um presidente “homofóbico, sim, com orgulho”, sejam garantidos os direitos civis de cada brasileiro/a independente de sua orientação sexual;
- que as pessoas negras e indígenas parem de ser consideradas preguiçosas que “não servem nem pra procriar” e tenham garantidos seus direitos e espaços na sociedade;
Democracia e liberdade:
- que cessem as ameaças saudosistas de uma ditadura que “errou em torturar e não matar”;
- que seja desmascarado o fantasma de um comunismo que nunca ameaçou este país, mas que amedronta uma igreja covarde que optou por perseguir para não ser perseguida e escapar de Mateus 10:18,19.
- Que, enfim, tenhamos nossa constituição respeitada e o Estado de Direito garantido.
Por fim, Senhor, peço também que nos abençoe com consciência ambiental para cuidarmos das nossas matas impedindo a “passagem da boiada” e que nos ajude a incluir as pessoas com deficiência, que tanto nos ensinam, em detrimento de doutores que só atrapalham. Principalmente, peço que faça do Brasil uma pátria amada, não armada.
E, se não for pedir muito, que em 2022 nos abençoe com um/a presidente/a que atente para tudo isso e seja favorável à ciência – de preferência que não ache que usar máscara em plena pandemia de covid-19 “é coisa de maricas”.
Em nome de Jesus, amém.
Exercício 40: Escreva sobre uma cena inesquecível da sua vida em terceira pessoa, como se estivesse descrevendo a cena de um filme.
Ela sempre soube que esse dia chegaria mas, sinceramente, não pensou que fosse acontecer tão cedo. Ontem mesmo ele era só um bebezinho e hoje está de malas prontas para uma viagem provavelmente sem volta. Talvez ele estivesse pronto para voar alto e partir para o mundo a fim de conquistar seus sonhos, mas ela, com certeza, ainda não estava.
“Seu filho foi educado para ser independente e livre, ele não é sua propriedade e chegou a hora de se despedir. Ele será feliz, bem sucedido e abençoado”. Essas frases eram repetidas em sua mente como um mantra cuja finalidade era a de convencer a si mesma que deixá-lo ir assim, tão novo, era a coisa certa a fazer e que tudo, afinal, ficaria bem pois esse sempre fora o plano.
Mas a tristeza da despedida era inevitável e o coração de mãe estava aflito, apertado, sangrando de dor. Inevitável também era repassar as memórias felizes de uma infância que passou voando: os primeiros passos, as primeiras palavras, as festinhas de aniversário, os amigos em casa jogando bola na garagem, vídeo game… Era inacreditável que esse menino já estivesse munido de seu passaporte voando sozinho para o outro lado do mundo, cheio de esperança, construindo o tão sonhado futuro.
De repente, veio à sua memória a imagem daquele menininho com 6 anos de idade, chegando de sua primeira viagem do time com a mochila nas costas, falando sem parar contando histórias mescladas de verdade e imaginação, todo empolgado por sua primeira aventura sem o papai e a mamãe. Ela se lembrou, então, do quanto foi difícil deixá-lo ir nessa primeira vez e que esse ponto de partida foi o aceno inicial de que ele estava autorizado a seguir o seu caminho com a nossa bênção.
E foi assim que muitas outras idas e vindas aconteceram, sempre com a nossa torcida por bons resultados nos jogos mas, principalmente, torcendo e orando para que fosse um campeão na vida. Para isso ele foi educado: para lutar pelos seus sonhos, ter fé em si mesmo e em Deus, ser gentil e amoroso e, ao mesmo tempo, determinado e forte. Ele estava indo para o destino que estava escrito para ele, o qual todos nós acompanhamos de perto com nosso amor e, naquele momento, a paz voltou ao seu coração.
Longe ou perto de nós, o elo que nos une é inquebrável. Estaremos sempre unidos em nossa alma, num sentimento divino que ultrapassa o tempo e o espaço e isso é maior do que o oceano que agora nos separaria e mais forte do que qualquer obstáculo que pudesse surgir.
O auto falante do aeroporto anunciava que era hora do último abraço antes da partida e, apesar do vai em vem de tanta gente que passava por eles e do barulho de vozes e choros das partidas e chegadas, um silêncio profundo cercou mãe e filho num abraço apertado. Agora eram apenas os dois, selando o momento da partida combinada desde a maternidade. Chegou a hora do filho amado alçar seu voo, seguro de ter aprendido a voar debaixo das asas da mãe.
As águas desse novo batismo fluíram abundantemente dos seus olhos: mãe e filho derramaram ali, no chão sujo daquele aeroporto movimentado, um rio que desaguou alegrias e tristezas, dúvidas e certezas, medos e esperanças. E assim ele partiu na direção de seu futuro enquanto ela ficou ali no mesmo lugar de sempre, procurando manter-se forte para ser a coluna que sustentaria essa nova construção. A volta para casa foi silenciosa e triste, e o choro continuou como sua companhia durante toda a noite que se seguiu.
Porém, isso também hoje é só mais uma lembrança em sua memória. Outros tantos pousos e decolagens foram vividos desde a cena dessa primeira partida, e nem parece que mais de 10 anos já se passaram… Aquele menino molhado de suor aos 5 anos e aquele adolescente molhado de lágrimas aos 19, hoje é um homem feito, bem sucedido, feliz e ainda lá do outro lado do Atlântico.
Essas lembranças marejam novamente os olhos dela, a mãe orgulhosa de si mesma e do filho campeão. Agora sim, ela está pronta para virar as próximas páginas desse livro da vida, pronta para novos finais felizes e novos recomeços. Pronta. Será?
Exercício 39: “Mar. Horizonte. Infinito. Azul” Escreva um minitexto com essa mesma lógica, sem verbos, só com palavras que, ao final, transmitam a ideia que você quer passar.
Minha vida sem verbos.
Juventude. Amizades. Namoros. Homem. Mulher. Amor. Noivado. Casamento. Mudança. Filhos. Amor dobrado. Estudo. Trabalho. Carreira. Netas. Amor triplicado. Amadurecimento. Aposentadoria. Ninho vazio. Homem. Mulher. Forte Amor. Amor pra sempre.
Exercício 38: Escolha um país desconhecido, leia informações básicas sobre ele (em uma fonte como Wikipedia) e escreva uma história de amor tendo esse país como cenário.
San Marino: um país dentro da Itália, foi o lugar escolhido para este exercício. Tão incrível que, quem sabe, um dia talvez saia da ficção para a vida real!
Os dados sobre San Marino que estão no texto foram retirados das seguintes fontes, além da Wikipedia:
https://brasilescola.uol.com.br/geografia/san-marino.htm
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/05/micropais-europeu-dara-vacina-a-turista-que-reservar-hotel-veja-fotos.shtml
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/11/unica-republica-do-mundo-ter-dois-chefes-de-estado-e-troca-los-cada-6-meses.html
https://www.gov.sm/
Era só mais uma viagem para esta mochileira que adora conhecer novos lugares… Foram tantas as cidades e países visitados desde que resolvi vestir meu tênis e minha calça jeans mais confortáveis e sair pelo mundo feito nômade, que até já havia perdido a conta.
Tanto tempo andando por aí, sempre com pouca grana, me virando em trabalhos temporários aqui e ali, dormindo em albergues, experimentando todos os novos sabores que minhas moedinhas podiam pagar. Quantas linhas de trem, quantas estradas, quantos barcos e aviões? Foram quilômetros e mais quilômetros de bicicleta ou a pé conhecendo ruas, praças, parques, bosques, lagos, rios e mares, montanhas e vales, sol escaldante e neve e pessoas, muitas pessoas de culturas e costumes diferentes.
Conheci uma infinidade de templos, museus, bibliotecas, monumentos e feiras: um universo de conhecimento vivenciado de perto e inundado de cores, perfumes e sabores. Essa foi a vida que eu escolhi e decidi registrar para dividir com o mundo minhas experiências por meio de um blog onde conto minhas aventuras.
E foi assim que, depois de já ter carimbado meu passaporte com visitas em lugares tradicionalmente mais turísticos, resolvi sair do circuito conhecido e buscar novas aventuras em locais menos badalados, por assim dizer.
Foi quando descobri que existia um país dentro de outro país: San Marino, o estado nacional mais antigo do mundo fundado em 301 d.C que, embora esteja cercado de Itália por todos os lados, trata-se de um país independente. Minhas origens italianas acenderam dentro de mim um desejo incontrolável de visitar esse inusitado e histórico país. O que eu não podia prever, contudo, foi o efeito que essa visita teria na minha vida…
Comecei a pesquisar algumas características de San Marino e, a cada descoberta, o encantamento crescia: a República Sereníssima de San Marino, país montanhoso com uma extensão geográfica de 61km (mais ou menos o tamanho de Manhattan, NY) e de governo socialista/parlamentarista que elege dois governantes que se revezam a cada 6 meses (diarquia), possui pouco mais de 30 mil habitantes e tem a maior renda per capita do mundo!
Além desses dados intrigantes, descobri que hotéis (o turismo é a principal fonte de renda) ofereciam vacinar seus hóspedes durante a pandemia de covid-19! O interesse por esse lugar aumentava na medida em que outras informações iam sendo recebidas, por exemplo: mortalidade infantil mínima (4 por 100 hab.), toda a população acima de 15 anos alfabetizada, expectativa de vida de 81 anos… Pensei com meus botões: esse é um lugar perfeito para viver e envelhecer!
E as imagens e fotos de San Marino? Apaixonantes com seus vinhedos, castelos e montanhas… Me apressei em buscar informações e agilizar documentos necessários para entrar no país e planejei com cuidado cada passo: melhor época do ano, hospedagens, pontos turísticos, possibilidade de estudos. Organizei as etapas com um misto de ansiedade e alegria por mais essa aventura e #partiuSanMarino.
Depois de um breve período em Rimini (linda cidade litorânea, aliás) visitando amigos queridos que moram ali, peguei o ônibus para San Marino. Com o coração batendo a mil (ansiedade e medo de alguma zica com os documentos), desembarquei e, assim que coloquei os pés no chão “marinense”, experimentei a mais forte atração que senti em todas as minhas viagens. Aquele era o meu lugar!
Castelos, basílica, museus, torres, praças, cada ruazinha estreita, cada construção no país mais antigo do mundo… tudo tão encantador! A Cidade de San Marino, capital do pequeno país, é a mais movimentada, por assim dizer. Fica no alto do Monte Titano e a vista que se tem de lá é incrível de qualquer ponto da cidade.
Resolvi ficar na capital por um período experimental de 30 dias, mesmo sabendo que um dia seria suficiente para explorar cada centímetro da cidade. Mas eu tinha segundas intenções: queria conhecer a rotina do lugar, sentir um pouco do que representa ser uma cidadã de San Marino. Ali eu não queria ser apenas turista, queria sondar a possibilidade de me estabelecer nesse lugar incrível. E foram 30 dias incríveis!
A cada lugar que eu visitava, cada pessoa com quem conversava, cada turista que eu ajudava, cada refeição que eu fazia, enfim… A paixão inicial se transformou em amor. Decidi que ali seria o lugar do meu pouso final, era para San Marino que eu queria voltar depois de qualquer viagem que eu fizesse dali em diante.
E o universo conspirou a favor: a covid-19 foi finalmente controlada, os documentos necessários para minha estada permanente foram reunidos e aprovados. Tratei de me desfazer de coisas materiais que me ligavam ao meu país de origem e, por fim, pude adquirir uma aconchegante casinha que agora pretendo adaptar e transformar em uma pequena e charmosa pousada.
Consegui um trabalho remunerado em uma cafeteria/biblioteca, lugar que é quase um céu para quem ama café e livros. Continuo estudando italiano e a história de San Marino e me arrisco como guia de turismo freelancer de vez em quando. Com o aluguel dos quartos na minha pousada, terei o suficiente para viver tranquilamente e continuar ‘mochilando’ por aí sempre que a saudade da estrada bater. Meu blog agora conta histórias internas também, sobre minhas descobertas e vivências neste lugar pelo qual me apaixonei.
Volto ao Brasil uma vez por ano, ainda tenho amores por lá. Aliás, coisa bem estranha é o amor (alô, Cazuza): ele se revela de diferentes formas e se entrega a alvos distintos. A gente ama as pessoas, a família, ama os animais, pode amar o que faz, ama alguns objetos e também pode amar um lugar que nunca imaginou que existisse – amar tanto a ponto de querer fincar neles suas raízes. E essa é a minha história de amor por San Marino. E aqui meu coração permanece aberto para continuar amando pessoas, coisas e lugares, mas sempre voltando para minha nova casa, a casa do meu amor maduro.
Exercício 37: Invente um ditado aos moldes da sabedoria popular, a exemplo de “a fé remove montanhas” e “a esperança é a última que morre”.
Invente um ditado aos moldes da sabedoria popular, a exemplo de “a fé remove montanhas” e “a esperança é a última que morre”
“Quem fala mal de alguém para você, certamente já falou mal de você para alguém”