San Marino: um país dentro da Itália, foi o lugar escolhido para este exercício. Tão incrível que, quem sabe, um dia talvez saia da ficção para a vida real!

Os dados sobre San Marino que estão no texto foram retirados das seguintes fontes, além da Wikipedia:

https://brasilescola.uol.com.br/geografia/san-marino.htm

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/05/micropais-europeu-dara-vacina-a-turista-que-reservar-hotel-veja-fotos.shtml

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/11/unica-republica-do-mundo-ter-dois-chefes-de-estado-e-troca-los-cada-6-meses.html

https://www.gov.sm/

 

Era só mais uma viagem para esta mochileira que adora conhecer novos lugares… Foram tantas as cidades e países visitados desde que resolvi vestir meu tênis e minha calça jeans mais confortáveis e sair pelo mundo feito nômade, que até já havia perdido a conta.

Tanto tempo andando por aí, sempre com pouca grana, me virando em trabalhos temporários aqui e ali, dormindo em albergues, experimentando todos os novos sabores que minhas moedinhas podiam pagar. Quantas linhas de trem, quantas estradas, quantos barcos e aviões? Foram quilômetros e mais quilômetros de bicicleta ou a pé conhecendo ruas, praças, parques, bosques, lagos, rios e mares, montanhas e vales, sol escaldante e neve e pessoas, muitas pessoas de culturas e costumes diferentes.

Conheci uma infinidade de templos, museus, bibliotecas, monumentos e feiras: um universo de conhecimento vivenciado de perto e inundado de cores, perfumes e sabores. Essa foi a vida que eu escolhi e decidi registrar para dividir com o mundo minhas experiências por meio de um blog onde conto minhas aventuras.

E foi assim que, depois de já ter carimbado meu passaporte com visitas em lugares tradicionalmente mais turísticos, resolvi sair do circuito conhecido e buscar novas aventuras em locais menos badalados, por assim dizer.

Foi quando descobri que existia um país dentro de outro país: San Marino, o estado nacional mais antigo do mundo fundado em 301 d.C que, embora esteja cercado de Itália por todos os lados, trata-se de um país independente. Minhas origens italianas acenderam dentro de mim um desejo incontrolável de visitar esse inusitado e histórico país. O que eu não podia prever, contudo, foi o efeito que essa visita teria na minha vida…

Comecei a pesquisar algumas características de San Marino e, a cada descoberta, o encantamento crescia: a República Sereníssima de San Marino, país montanhoso com uma extensão geográfica de 61km (mais ou menos o tamanho de Manhattan, NY) e de governo socialista/parlamentarista que elege dois governantes que se revezam a cada 6 meses (diarquia), possui pouco mais de 30 mil habitantes e tem a maior renda per capita do mundo!

Além desses dados intrigantes, descobri que hotéis (o turismo é a principal fonte de renda) ofereciam vacinar seus hóspedes durante a pandemia de covid-19! O interesse por esse lugar aumentava na medida em que outras informações iam sendo recebidas, por exemplo: mortalidade infantil mínima (4 por 100 hab.), toda a população acima de 15 anos alfabetizada, expectativa de vida de 81 anos… Pensei com meus botões: esse é um lugar perfeito para viver e envelhecer!

E as imagens e fotos de San Marino? Apaixonantes com seus vinhedos, castelos e montanhas… Me apressei em buscar informações e agilizar documentos necessários para entrar no país e planejei com cuidado cada passo: melhor época do ano, hospedagens, pontos turísticos, possibilidade de estudos. Organizei as etapas com um misto de ansiedade e alegria por mais essa aventura e #partiuSanMarino.

Depois de um breve período em Rimini (linda cidade litorânea, aliás) visitando amigos queridos que moram ali, peguei o ônibus para San Marino. Com o coração batendo a mil (ansiedade e medo de alguma zica com os documentos), desembarquei e, assim que coloquei os pés no chão “marinense”, experimentei a mais forte atração que senti em todas as minhas viagens. Aquele era o meu lugar!

Castelos, basílica, museus, torres, praças, cada ruazinha estreita, cada construção no país mais antigo do mundo… tudo tão encantador! A Cidade de San Marino, capital do pequeno país, é a mais movimentada, por assim dizer. Fica no alto do Monte Titano e a vista que se tem de lá é incrível de qualquer ponto da cidade.

Resolvi ficar na capital por um período experimental de 30 dias, mesmo sabendo que um dia seria suficiente para explorar cada centímetro da cidade. Mas eu tinha segundas intenções: queria conhecer a rotina do lugar, sentir um pouco do que representa ser uma cidadã de San Marino. Ali eu não queria ser apenas turista, queria sondar a possibilidade de me estabelecer nesse lugar incrível. E foram 30 dias incríveis!

A cada lugar que eu visitava, cada pessoa com quem conversava, cada turista que eu ajudava, cada refeição que eu fazia, enfim… A paixão inicial se transformou em amor. Decidi que ali seria o lugar do meu pouso final, era para San Marino que eu queria voltar depois de qualquer viagem que eu fizesse dali em diante.

E o universo conspirou a favor: a covid-19 foi finalmente controlada, os documentos necessários para minha estada permanente foram reunidos e aprovados. Tratei de me desfazer de coisas materiais que me ligavam ao meu país de origem e, por fim, pude adquirir uma aconchegante casinha que agora pretendo adaptar e transformar em uma pequena e charmosa pousada.

Consegui um trabalho remunerado em uma cafeteria/biblioteca, lugar que é quase um céu para quem ama café e livros. Continuo estudando italiano e a história de San Marino e me arrisco como guia de turismo freelancer de vez em quando. Com o aluguel dos quartos na minha pousada, terei o suficiente para viver tranquilamente e continuar ‘mochilando’ por aí sempre que a saudade da estrada bater. Meu blog agora conta histórias internas também, sobre minhas descobertas e vivências neste lugar pelo qual me apaixonei.

Volto ao Brasil uma vez por ano, ainda tenho amores por lá. Aliás, coisa bem estranha é o amor (alô, Cazuza): ele se revela de diferentes formas e se entrega a alvos distintos. A gente ama as pessoas, a família, ama os animais, pode amar o que faz, ama alguns objetos e também pode amar um lugar que nunca imaginou que existisse – amar tanto a ponto de querer fincar neles suas raízes. E essa é a minha história de amor por San Marino. E aqui meu coração permanece aberto para continuar amando pessoas, coisas e lugares, mas sempre voltando para minha nova casa, a casa do meu amor maduro.