Ela sempre soube que esse dia chegaria mas, sinceramente, não pensou que fosse acontecer tão cedo. Ontem mesmo ele era só um bebezinho e hoje está de malas prontas para uma viagem provavelmente sem volta. Talvez ele estivesse pronto para voar alto e partir para o mundo a fim de conquistar seus sonhos, mas ela, com certeza, ainda não estava.

“Seu filho foi educado para ser independente e livre, ele não é sua propriedade e chegou a hora de se despedir. Ele será feliz, bem sucedido e abençoado”. Essas frases eram repetidas em sua mente como um mantra cuja finalidade era a de convencer a si mesma que deixá-lo ir assim, tão novo, era a coisa certa a fazer e que tudo, afinal, ficaria bem pois esse sempre fora o plano.

Mas a tristeza da despedida era inevitável e o coração de mãe estava aflito, apertado, sangrando de dor. Inevitável também era repassar as memórias felizes de uma infância que passou voando: os primeiros passos, as primeiras palavras, as festinhas de aniversário, os amigos em casa jogando bola na garagem, vídeo game… Era inacreditável que esse menino já estivesse munido de seu passaporte voando sozinho para o outro lado do mundo, cheio de esperança, construindo o tão sonhado futuro.

De repente, veio à sua memória a imagem daquele menininho com 6 anos de idade, chegando de sua primeira viagem do time com a mochila nas costas, falando sem parar contando histórias mescladas de verdade e imaginação, todo empolgado por sua primeira aventura sem o papai e a mamãe. Ela se lembrou, então, do quanto foi difícil deixá-lo ir nessa primeira vez e que esse ponto de partida foi o aceno inicial de que ele estava autorizado a seguir o seu caminho com a nossa bênção.

E foi assim que muitas outras idas e vindas aconteceram, sempre com a nossa torcida por bons resultados nos jogos mas, principalmente, torcendo e orando para que fosse um campeão na vida. Para isso ele foi educado: para lutar pelos seus sonhos, ter fé em si mesmo e em Deus, ser gentil e amoroso e, ao mesmo tempo, determinado e forte. Ele estava indo para o destino que estava escrito para ele, o qual todos nós acompanhamos de perto com nosso amor e, naquele momento, a paz voltou ao seu coração.

Longe ou perto de nós, o elo que nos une é inquebrável. Estaremos sempre unidos em nossa alma, num sentimento divino que ultrapassa o tempo e o espaço e isso é maior do que o oceano que agora nos separaria e mais forte do que qualquer obstáculo que pudesse surgir.

O auto falante do aeroporto anunciava que era hora do último abraço antes da partida e, apesar do vai em vem de tanta gente que passava por eles e do barulho de vozes e choros das partidas e chegadas, um silêncio profundo cercou mãe e filho num abraço apertado. Agora eram apenas os dois, selando o momento da partida combinada desde a maternidade. Chegou a hora do filho amado alçar seu voo, seguro de ter aprendido a voar debaixo das asas da mãe.

As águas desse novo batismo fluíram abundantemente dos seus olhos: mãe e filho derramaram ali, no chão sujo daquele aeroporto movimentado, um rio que desaguou alegrias e tristezas, dúvidas e certezas, medos e esperanças. E assim ele partiu na direção de seu futuro enquanto ela ficou ali no mesmo lugar de sempre, procurando manter-se forte para ser a coluna que sustentaria essa nova construção. A volta para casa foi silenciosa e triste, e o choro continuou como sua companhia durante toda a noite que se seguiu.

Porém, isso também hoje é só mais uma lembrança em sua memória. Outros tantos pousos e decolagens foram vividos desde a cena dessa primeira partida, e nem parece que mais de 10 anos já se passaram… Aquele menino molhado de suor aos 5 anos e aquele adolescente molhado de lágrimas aos 19, hoje é um homem feito, bem sucedido, feliz e ainda lá do outro lado do Atlântico.

Essas lembranças marejam novamente os olhos dela, a mãe orgulhosa de si mesma e do filho campeão. Agora sim, ela está pronta para virar as próximas páginas desse livro da vida, pronta para novos finais felizes e novos recomeços. Pronta. Será?