Tem uma música sendo tocada na janela do meu quarto, interpretada com perfeição pela natureza. Um som molhado que escorre pelo vidro, limpando a poeira do dia que passou. Diferentes tons: uns mais graves, outros mais agudos que tocam suas notas enquanto formam uma sinfonia tranquila, que traz calma e ajuda a dormir. A princípio tocada de forma suave, lenta e espaçada, agora muda o tom acelerando a batida. O toque, antes leve como os de um dedilhar das teclas de um piano, agora é forte como as de uma bateria em um show de rock. Assustador.
Cada nota violenta batida na janela representa a fúria de um dueto formado por águas e ventos que não mais respeitam ritmos, espaços ou acordes. Somam-se a esse cenário os sons graves dos trovões e as luzes dos raios que cortam os céus e iluminam o quarto escuro. O que era paz, torna-se medo. Medo não por mim – estou segura, contemplando o espetáculo. Tenho medo por tantos cujas casas não suportam o peso das águas e a força dos ventos. Medo por aqueles que se abrigam nas marquises das cidades nuas, indefesos diante na natureza enfurecida.
Então peço a Deus que desacelere o ritmo dessa orquestra e retorne ao som dos pingos suaves e da brisa tranquila, garantindo um sono seguro para todos. Enquanto a chuva silencia na janela, lembro que a natureza é divina e, por isso mesmo, perfeita: quando vem tocando um chorinho ou um heavy metal. Imperfeitos somos nós, que não sabemos cuidar da vida – a da natureza e a das pessoas.
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