Conheçam a história de Ella. Este conto não se trata de um exercício da caixinha, mas de um exercício de pensamento crítico dos dias atuais. Qualquer semelhança com fatos e pessoas reais é mera coincidência.

Ella, a bruxa comunista

Era uma vez uma menina que, desde bem pequenina, se mostrava diferente das demais. Gostava de brincar com as outras crianças da sua idade, mas sempre procurava brincadeiras que fossem divertidas e legais para todas elas. Não achava justo que alguém ficasse triste ou deixado de lado enquanto outras crianças riam ou ignoravam qualquer uma que fosse.

Muito inteligente e estudiosa, quando estava na escola, ficava sempre atenta aos coleguinhas e, ao detectar alguém com dificuldades de entender alguma matéria, se dispunha a ajudar. Na hora do recreio era muito comum que Ella dividisse seu lanche com amiguinhos e amiguinhas que não tinham o que comer. Sua mãe caprichava na quantidade de comida na lancheira, incentivando sua filha a ser generosa com os que tinham menos recursos.

Ella amava a natureza. Sabia que não era legal arrancar flores do jardim ou maltratar os animais. Ainda pequena, já cultivava algumas hortaliças no quintal, ajudada por sua mãe e construía casinhas de pássaros com seu pai. Ella era especialmente apaixonada pelos pássaros: lia tudo o que podia sobre eles, sabia distinguí-los por seu canto, acompanhava os ovinhos chocados nos ninhos das árvores do quintal de casa, observava as casinhas de barro construídas nos postes e sinaleiras das ruas do bairro.

Seu gosto por alimentos era bem peculiar para a sua idade. Enquanto doces e refrigerantes dominavam o cardápio das crianças em geral, Ella preferia alimentos naturais, verduras e legumes, fibras e sucos de frutas. Esse paladar característico, aos poucos, acabou levando seus amigos a recusarem a oferta de dividir o lanche, mesmo aqueles mais carentes, que achavam a comida de Ella muito esquisita. Na verdade, achavam que Ella era esquisita.

E Ella era mesmo diferente e isso sempre lhe trazia problemas. Ao defender a natureza e não compactuar com injustiças e maldades, foram muitas as vezes em que Ella precisou confrontar meninos e meninas com atitudes maldosas. Incompreendida e alvo de críticas e ataques, Ella foi aos poucos se afastando do convívio nos momentos coletivos de brincadeiras e recreio até que, mais tarde, acabou se isolando das pessoas de uma forma mais geral.

Assim, Ella se tornou uma moça solitária. Essa solidão cresceu ainda mais quando seus pais partiram, vitimados por um vírus que ceifou milhares de vidas em todo o planeta. Ella, então, foi construindo um mundo próprio, cheio de cores e de vida que a maior parte das pessoas não consegue entender ou aceitar.

Ela continuou morando na casa de seus pais, que foi envelhecendo com o tempo. Cuidava do jardim com lindas flores e do quintal com uma rica horta cheia de ervas medicinais e de um lindo pomar com frutas doces e de uma beleza natural. Tudo o que ela precisava para se alimentar estava bem ali. Como amava os animais, não podia ver um cãozinho ou um gato abandonado que logo tratava de cuidar dele e, assim, a casa foi se enchendo de bichinhos domésticos.

Ella era muito talentosa e possuía diversas habilidades artísticas: sabia esculpir em argila, pintava telas lindíssimas com tintas naturais que ela mesma fabricava, tocava flauta e amava dançar. Dançava por horas entre as árvores do seu quintal, acompanhada de seus bichos de estimação. Lia muito, em especial, a enciclopédia de medicina natural que herdou de seu pai, que fora um farmacêutico muito conhecido no bairro. O conhecimento que adquiriu pela leitura se transformou em sua prática cotidiana e profissional.

Seus unguentos, pomadas e remédios eram muito procurados pelas pessoas que moravam na sua cidade e Ella prontamente atendia a todos e todas que precisassem de sua ajuda. Nunca negou uma gota de seus remédios a quem não podia pagar, mas ia semanalmente à feira do seu bairro para vender seus produtos medicinais e geleias naturais que fazia com as frutas de seu quintal. Assim, Ella garantia o seu sustento.

Na verdade, quase não precisava de dinheiro para viver. Seu estilo de vida era extremamente simples. Sua comida saía basicamente toda do seu quintal, a luz que precisava vinha das velas aromáticas que ela mesma fabricava e sua água era puxada do poço que seus pais cavaram quando ela ainda era pequena. Andava sempre a pé pela cidade, não ia muito além do seu bairro. O que mais precisasse para suas artes ou outra questão qualquer, a renda que vinha do seu pequeno negócio natural cobria tranquilamente.

Dessa forma, Ella vivia sua vidinha de forma absolutamente simples, porém, não passava despercebida dos demais. Como entender uma moça solitária, talvez com seus 25 anos (quem saberia dizer?), cuja casa envelhecia a olhos vistos, sem carro na garagem, sem tv ou mesmo luz elétrica? Quão estranha deve ser uma moça que não frequenta salões de beleza, costura suas próprias roupas e nunca pisou em um shopping? E, o que dizer do tanto de bichos que ela abriga?

Sim, o estranhamento em relação à Ella era enorme a ponto de, apesar de toda esquisitice evidente para os cidadãos e cidadãs “normais” ao seu redor, ninguém – absolutamente ninguém – ousava confrontá-la ou mesmo conviver com ela. As lendas sobre Ella eram inúmeras: seria uma louca que vagueia pelas ruas madrugada afora? Usaria os animais para seus rituais malignos? Suas ervas medicinais seriam alucinógenas? Teria matado seus próprios pais?

Todas as histórias a respeito de Ella eram fruto do medo insano que as pessoas tinham dela pelo fato de ser diferente dos demais. E esse preconceito acabava atingindo aqueles que consumiam seus produtos, fazendo com que sua clientela fosse diminuindo ao longo do tempo. Ella sabia que esse era um preço a ser pago por sua opção de vida, mas pensando principalmente nas pessoas que necessitavam de ajuda, arriscou alguns projetos para além dos seus muros.

Começou a plantar uma horta comunitária num terreno abandonado numa rua próxima à sua casa. Limpou o terreno, preparou a terra e levou para lá algumas mudas que foram crescendo e colorindo o lugar. Em pouco tempo, estavam disponíveis pés de alface e couve, tomate e cenouras: livres para quem precisasse pegar. A princípio uns poucos curiosos passavam ali perto sem coragem de sequer tocar numa folhinha que fosse mas, com o passar do tempo, Ella percebeu que algumas famílias iam até lá de vez em quando para uma colheita.

Isso trouxe uma alegria nova ao coração de Ella, que continuava a cuidar da horta sozinha, mantendo-a sempre viva.  Acontece que, para algumas pessoas, ser diferente e promover o bem comum, é algo que não pode ser tolerado. Logo um grupo de opositores a essa iniciativa se levantou para espalhar mentiras a respeito da horta, levantando dúvidas em relação ao tipo de ervas que poderiam estar entre as hortaliças e alimentando boatos a respeito do caráter e intenções de Ella.

Foi assim que numa manhã, quando Ella chegou com novas mudas para plantio, deparou-se com a horta toda destruída e com diversos cartazes de acusação e ameaças, caso insistisse com o projeto. Pela primeira vez, Ella sentiu-se totalmente desamparada e profundamente triste. Ali mesmo, deixou seu corpo cair ao chão e, de joelhos, chorou copiosamente. Suas mãos estavam trêmulas, não sentia força alguma em seus braços e pernas e sua cabeça parecia explodir de tanta dor. Depois de muito chorar, desfaleceu em um sono de cansaço, caída entre os cartazes e hortaliças arrancadas e pisoteadas.

Acordou horas depois em sua própria cama e teve a impressão momentânea de que tudo aquilo não passara de um pesadelo horrível. Ao abrir seus olhos, porém, viu sentada ao pé do seu colchão uma moça, aparentemente da mesma idade, de uma beleza como poucas já teve a oportunidade de ver em sua vida. O susto dessa visão iluminada a fez levantar-se de um pulo só, o que resultou em uma forte tontura que quase a fez cair. A moça bonita rapidamente a amparou e a ajudou a sentar-se calmamente em sua cama, lhe ofereceu um chá feito com as hortelãs do quintal de Ella e trouxe um pedaço de um bolo integral que encontrou na cozinha.

Ella alimentou-se devagar enquanto as duas apenas se entreolhavam em silêncio. Ella não conseguia disfarçar a surpresa e o sentimento de que, se o acontecido de antes fora um pesadelo, o momento de então era como um sonho bom. Bebeu seu chá, deu uma mordida no bolo mas, não conseguindo mais conter sua curiosidade, puxou a conversa primeiro agradecendo e, a seguir, perguntando o que era tudo aquilo.

A linda moça então explicou quem era e porque estava ali. Contou que conhecia Ella desde criança, que estudaram na mesma escola e cresceram juntas no mesmo bairro, mesmo que nunca tenham trocado uma palavra sequer. Disse que sempre observou com admiração e respeito as atitudes de Ella ao repartir seu lanche, cuidar da natureza, proteger as crianças mais frágeis do bullying que sofriam, mesmo sendo ela mesma vítima de tantos ‘valentões’…

Disse também que respeita a coragem de manter um estilo de vida tão distante dos padrões impostos pela sociedade e que até mesmo tinha uma certa inveja disso já que sua aparência é toda moldada segundo as regras de beleza vigentes. A moça confessou que esse acompanhamento que fez da vida de Ella desde pequena ultrapassa um pouco os limites do simples observar. Pediu desculpas educadamente antes de confessar que, em muitas ocasiões, interferiu de forma indireta na vida de Ella. Contou que é compradora assídua de suas geleias, chás e outros produtos naturais que vende na feira. Possui também uma coleção de suas obras de arte: várias telas estão emolduradas nas paredes de sua casa e algumas esculturas enfeitam a mobília cara de seus cômodos.

Os olhos de Ella, cheio de surpresa e de lágrimas, não podiam crer naquela cena e tentavam encontrar algum sinal no rosto daquela mulher que indicasse já tê-la encontrado antes. Simplesmente não podiam ser verdadeiras aquelas palavras pois Ella era sempre muito atenta às pessoas que interagiam com ela, olhando-as diretamente nos olhos. Ela se lembraria, com certeza, daquele olhar brilhante…

A moça, sensível ao olhar confuso de Ella, explicou que nunca comprou nada pessoalmente. Geralmente pedia que pessoas que trabalham em sua casa ou empresa fossem à feira ou, em muitas ocasiões, oferecia uns trocados a desconhecidos para comprarem enquanto esperava dentro do carro a alguns metros de distância.

Ella cobriu o rosto com suas mãos novamente trêmulas, mas agora de um jeito bom, enquanto tentou balbuciar algumas palavras que misturavam gratidão, surpresa e uma enorme curiosidade que tinha, sim, um certo medo por ter sido observada tão de perto e por tanto tempo sem nunca sequer desconfiar. Respirou fundo e, com as forças voltando ao seu corpo, resolveu levantar da cama, foi até a cozinha e convidou a moça a sentar-se à mesa.

Foi a vez de Ella oferecer-lhe um chá e uma fatia de pão caseiro integral com um pouco da geleia que, aparentemente, a moça conhecia bem e apreciava. E então quis saber mais, quis contar mais e ficaram por horas conversando como se fossem amigas muito próximas de longa data. Descobriu na conversa que tinha uma colaboradora no projeto da horta que passava por lá para plantar algumas sementes também (o que explica aquele agrião que nasceu ali, assim, do nada e que Ella achou ter sido trazido no bico de algum pássaro).

Esse foi o início de uma bela amizade que foi crescendo nas semanas e meses seguintes, fato que obviamente chamou a atenção das mesmas pessoas que odiavam Ella apenas por ser diferente. Novos boatos começaram a surgir, agora voltados a questionar o tipo de relação entre as duas mulheres ou a sugerir que essa agremiação crescente de possíveis ‘bruxas’ poderia significar um grande perigo às famílias e crianças da vizinhança.

A despeito disso, conforme o tempo passava, as duas moças nutriam um amor fraterno e sincero cada vez maior. Viviam em mundos diferentes e tinham estilos de vida completamente diversos, mas a simplicidade da alma era o principal elo que as unia.

Homens e mulheres cheios de ódio passaram a se reunir, a princípio às escondidas, para planejar formas de banir de uma vez aquela figura indesejada. Criou-se um grupo em uma mídia social que costuma acolher perfis tóxicos sem muita censura e iniciou-se uma campanha de difamação da pobre Ella (que nem internet tinha em casa e nunca usou um celular na vida). Postagens com conteúdos falsos e fraudulentos começaram a viralizar e rapidamente uma rede de ódio se formou.

Ella, sem entender muito bem o que estava acontecendo, percebeu os olhares raivosos cada vez que saía de casa para ir à feira, onde sentiu um esvaziamento ao seu redor. Sua clientela desaparecera. Já não podia sequer ir ao jardim cuidar das flores porque sempre havia pessoas mal encaradas em frente ao portão, observando por cima do muro tudo o que ela fazia. Ella bem que tentou continuar sua vida normalmente, mas isso começou a ficar difícil até que se tornou impossível.

O movimento criado contra Ella tomou as ruas assim como as redes sociais e rapidamente se juntaram centenas de pessoas indignadas com essa mulher esquisita, enlouquecida e maligna, que representava um sério perigo à comunidade, seja por motivos de saúde pública (casa imunda, cheia de animais de rua/drogas/poções ‘mágicas pseudofarmacêuticas’??), seja por questões morais com seu comportamento fora dos padrões, sua ‘amizade’ com outra mulher, suas danças alucinadas no quintal, ou seja: simplesmente por ser livre para ser como achava melhor…

Moradores do bairro, inflamados de ódio contra Ella, jogavam pedras em sua casa, atiravam objetos em seus bichos de estimação, arrancavam as flores de seu jardim e gritavam palavras de ordem contra ela pedindo sua morte, clamando por justiça contra todas as pessoas que ela – supostamente – já havia fraudado com seus produtos ou mesmo prejudicado com suas bruxarias. Acuada dentro de casa e com muito medo, Ella acreditava que seu fim havia chegado.

A hashtag #ellabruxacomunista ganhou adeptos de várias cidades e estados até mesmo geograficamente distantes da cidadezinha onde Ella nasceu e viveu e, num piscar de olhos, uma campanha nacional contra ela estava formada. A pequena cidade passou a receber a presença de jornalistas e fotógrafos ávidos por imagens e informações dessa pessoa já odiada em nível nacional.

Esse inferno se instalou tão rapidamente e com tanta potência que parecia que um furacão estava passando sem qualquer aviso e destruindo tudo o que tocava com sua fúria. A cabeça de Ella girava, ela ouvia os gritos histéricos das chamadas “pessoas de bem” que, com seus olhos saltando para fora do rosto, exigiam sua cabeça em nome de Deus e pelas famílias. No meio de todo o seu desespero, Ella repassava sua vida mentalmente tentando encontrar o crime hediondo que havia cometido para merecer todo aquele julgamento, aquela inquisição. Sim, uma fogueira pós-moderna ardia mesmo que nenhuma tocha tivesse sido acesa.

Em meio a toda essa comoção, sentiu-se só. Mais só do que em toda a sua vida. Nem mesmo quando seus pais morreram a solidão invadira sua alma como nesse momento. As ausências em sua vida eram uma constante e, refletindo sobre isso, percebeu que há tempos a moça bonita também a havia deixado. Ella olhou ao redor e viu apenas seus cães assustados, ali firmes e presentes por ela, e pensou que não podia mais protegê-los, visto que sua própria vida estava por um fio. Esse pensamento doeu ainda mais forte em sua alma já tão angustiada.

Confinada em sua casa, sem parentes e amigos, Ella não dormia mais. Seus pensamentos se avolumavam em sua mente de forma a não permitir que seus olhos se fechassem por mais do que quinze minutos para, de repente, pular da cama assustada por algum pesadelo qualquer. Inclusive, a coisa mais certa em sua vida eram os pesadelos que tinha nesses breves cochilos. Um deles era recorrente: sonhava que sua casa estava em chamas, tudo o que tinha de mais precioso ardia em meio a um fogo inapagável. No sonho, Ella carregava inúmeros baldes de água que, num looping infinito, ela jogava nas chamas que só aumentavam e estalavam como que rindo de seu esforço inútil. Ella sempre acordava desse pesadelo com o coração disparado e o corpo molhado de suor e medo.

Perdeu o apetite também. O alimento para Ella não tinha mais cor, sabor, perfume. Começou a definhar, suas roupas pareciam cada vez maiores sobre um corpo frágil e esquelético quase sem vida. Deixou de ir ao quintal, não dançava mais e o silêncio passou a ser a marca registrada de sua existência. Seus dias eram entregues revezando a cama insone e a cadeira da cozinha onde às vezes tomava um chá. Com seu silêncio, as vozes ao redor começaram a diminuir também e, aos poucos, Ella foi esquecida pela multidão. Os ataques pararam, os curiosos deixaram de rodear a casa, já que as flores secaram, as árvores não tinham mais frutos e o mato só crescia ao redor.

Ella envelheceu. As poucas forças que lhe restavam eram direcionadas ao cuidado de seus cãezinhos até que, por fim, numa rara saída, resolveu deixá-los em um canil da cidade para adoção. Agora, livre de qualquer responsabilidade sobre outras pessoas, Ella foi aos poucos se despedindo da vida, absolutamente só. No balanço de sua existência, as poucas pessoas a quem se afeiçoou eram as luzes cada vez mais fracas que guiavam seu caminho: seus pais e a moça bonita que, sem qualquer explicação, desapareceu de sua vida num piscar de olhos.

Conforme aceitava seu destino, Ella começou a sentir-se livre novamente. Uma liberdade diferente, inédita e inexplicavelmente leve diante das circunstâncias. Seu corpo fraco mal se movia, mas sua alma parecia voar, sobrevoando a tudo e a todos, acima do tempo e dos lugares. Seus olhos agora não queriam mais se fechar, o descanso não era mais necessário porque todo o cansaço da vida tinha sido superado pela leveza dessa nova liberdade. O pesadelo acabara e a tristeza foi se tornando uma vaga lembrança até ser esquecida por completo. Não havia mais fome também porque, nesse diferente estado de vida (sim, vida), o corpo estava plenamente saciado de luz, de brisa, de ar.

Livre e plena, agora Ella pôde enxergar com clareza cristalina que não estava mais só: a seu lado, seus pais e a moça bonita eram suas companhias. Com os olhos marejados de felicidade, levantou sua cabeça e viu o lindo jardim onde estavam: cheio de árvores frutíferas, uma linda e farta horta com verduras e legumes tão coloridos como jamais havia visto. Numa mesa à sua frente, uma louça fina servia um delicioso chá, pães e biscoitos caseiros e alguns potes de geleias coloridas e perfumadas, feitas com frutas frescas do pomar. Lá ao longe viu seus cães correndo felizes. Então Ella entendeu que a vida verdadeira estava apenas começando.

Enquanto isso, os jornais locais noticiavam que um incêndio, iniciado provavelmente por um cigarro aceso jogado por cima de um muro, havia destruído a casa da moça estranha nacionalmente conhecida como a “bruxa comunista da cidade”. A pequena nota comunicava terem sido encontrados os corpos de duas vítimas: o da antiga moradora da casa (já reconhecido) e o de uma mulher de identidade ainda desconhecida, o qual os vizinhos acreditam ser de uma amiga que tentou socorrê-la durante o incêndio.